Mel e vergonha

Ontem minha mãe recebeu o título de Bacharel em Serviço Social.

Enfim, um rito de passagem, como tantos outros, essa tal formatura. Todavia, com certa atenção, você percebe o quão desgraçada é a elite do Brasil.

Pessoas simples e humildes, muitas delas vivendo, em suas famílias, o primeiro acontecimento dessa matiz. É nítida a falta de traquejo em lidar com as situações e mise en scene características deste tipo de imbróglio.

É foda e muito difícil de não ficar arrepiado com uma mãe, uma mulher pra lá dos seus 30 anos, vindo com um filho pequeno nos braços e montada em uma beca, com aquele sorriso de vitória no rosto.

Como não tremer na base  vendo um pai, um homem já idoso, com o corpo rígido de tanto trabalho braçal e tanta vida em dureza,trazendo ali, do jeito dele e com o orgulho dele, um filho ou filha que chegou a esse ato de encerramento de ciclo.

Porém e infelizmente, a maior parte desses brasileiros e brasileiras saem da faculdade sem entender um texto simples. Saem, pela lógica mercantil inerente ao tipo de instituição no qual realizarem sua formação, sem o mínimo de arcabouço teórico metodológico da seara profissional ao qual querem adentrar e, o pior, mantendo-se como adentraram a torre de marfim, como meros analfabetos funcionais.

Um diploma cheio de suor, cheio de galhardia mas oco.

É infernal pensar que a função dessas pessoas será, entrando em um mercado de trabalho cruel e ultra competitivo, tão somente serem a pedra de toque causadora da redução da massa dos salários das suas profissões, desempenhando, como seus pais e mães, quase todos negros e negras, os mesmos papeis  subalternos.

O ciclo continua. O mesmo ciclo apesar da pequena janela de acesso fornecida à ralé pela educação privada.

A sociedade brasileira é qualquer coisa escandalosamente esdrúxula e perfídia com os seus filhos e filhas mais necessitados.

É uma sociedade doente e que teima em não resolver sua principal injustiça histórica e, por isso, continuará a ser um país com o futuro natimorto.

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