Cinco de Maio de 2020, Cidade de São Salvador da Bahia de Todos os Santos, Agência Canela da Caixa Econômica Federal.
Não sei vocês mas, a sensação é de impotência, piedade e vergonha perante a humilhação que a parte mais precária da nossa população está amargando nesse mais de um ano de Bolsonaro, Generais apátridas, Damares, Weintraubs, Salles.
As filas, o desmprego em massa, os caixões empilhados do COVID, tem sido um tapa nas nossas fuças, a gota d’água nos rostos de gente que, como eu, em sua maioria, são remediados privilegiados, enquanto classe med letrada que consegue o mínimo sem suar demais.
Óbvio que muitos que sofrem desgraçadamente com o Bolsonarismo votaram ou, pior ainda, possuem uma forte crença nos pilares do Bolsonarismo.
Mas, neste momento isso pouco importa. Não adianta tripudiar.
Também não adianta, por mais que a paciência ferva nosso crânio ou queime nosso peito, tripudiar dos nossos(as) que ainda continuam na estupidez da omissão, na mesquinharia das necessidades mais do que justas do identitarismo, dos nossos pudores e certezas que deixam todos calmo e tranquilos enquanto sentados estão nessa sala de espera, diante dos escombros do colapso da atual sociedade capitalista brasleira.
Para muitos de nós, a missa é aguardar para que o tal Aeon da mudança, de cunho marxista leninista ou anarquista, entre em vigor – milagrosamente, por meio de uma vanguarda ou espontaneismo, variando o roteiro de acordo com o amo escolhido, papi Carlos ou Michel – após todo esse ocaso humanitário.
O que tá posto, o pirão do mundo real, é lutar do jeito que der e com quem aparecer (Doriana, Maia, AndradeHaddad sem sal nem açúcar, Rui Costa Racista estrutural, Cirão das Massas Coroné de Sobral, o pastor arrependido, o porra louca voluntarioso, a hipster com toda a cristandade do mundo, ACM Neto Esquerdopata, etc) para construir qualquer contramedida, qualquer concertação política que reduza/mitigue essa selvageria.
Por isso, estou a disposição. Bati panela no último mês mas, mui respeitosamente, informo que tenho outros skill. Ver LinkedIn…
Enquanto vocês não fazem aquela reunião insana, com um plano de ação grandiloquente e impossível até mesmo para Oxóssi montar em um cavalo e tentar vencer a demanda, vou aqui, no refazimento possível, com Bosco e Aldir no inacreditavelmente belo, nesse disco infinito que eles fizeram lá pelos anos de 1976, o “Galos de Briga”.
São 37 minutos de puro mel mas, como ficaria ruim para a fluidez da leitura colocar aqui todas as canções, escolhi a que mais afaz esse cozimento, do barro molhado do meu orì, ” Cavaleiro e os moinhos”.
O Cavaleiro e os moinhos
Acreditar na existência dourada do sol
Mesmo que em plena boca
Nos bata o açoite contínuo da noite
Arrebentar a corrente que envolve o amanhã
Despertar as espadas
Varrer as esfinges das encruzilhadas
Todo esse tempo foi igual a dormir no navio
Sem fazer movimento
Mas tecendo o fio da água e do vento
Eu, baderneiro, me tornei cavaleiro,
Malandramente, pelos caminhos
Meu companheiro tá armado até os dentes
Já não há mais moinhos como os de antigamente
Oh! Oh! Lara uê laiá
Oh! Oh! Lara uê laiá
Quem quiser aventurar-se sobre essa obra prima da MPB, que nunca teve a generosidade do cânone da crítica musical especializada, ver aqui, no breve texto do jornalista Rodrigo Mattar.
No mais, sigamos no rabo de foguete dessa quarta-feira quarentenada.
Inteh