Dupla de dois

Que dupla !!!

Brasil 2 X 0 México, Copa do Mundo 2018 – Garibaldi, Salvador – Bahia

É uma imensidão o quanto que as mulheres precisam abdicar do seu futuro, de uma vida de grandes viventes, por seus filhos, por suas filhas.

Mulheres negras e de origem humilde e, para o triedro perfeito, com homens egoístas, piorou.

Mulheres de Atenas? Hahah !! Não sobreviveriam aqui, na crueza e na brutalidade soteropolitana, nem por um dia sequer.

Por isso e por muito mais, tenho um profundo respeito, muitas vezes por demais silencioso, por essa dupla.

A mais novinha da foto, já operou Telex, foi professora de escola privada, vendeu doces de frutas,  bolsas e roupas – tudo ao mesmo tempo –  e ainda teve tempo de tocar um bar (verdadeiro roadmovie no céu aberto do singelo bairro de Pernambués).

Tudo isso para que eu tivesse a chance de estudar, de sonhar, de aprender a fazer política – calmo e tranquilo – em um instituição de ensino sui generis e, mesmo não querendo, uma escola preparatória para galgar aquilo para o qual ninguém da minha árvore genealógica ainda tinha alcançado.


Além disso, ensinou-me que não têm problema cair, sendo inclusive necessário esborrachar-se todinho no chão pelo que acreditamos.

A lição sempre foi o “ir levantando” queda após queda, nas circunstâncias que a vida oferecer e ir – mesmo com tudo doendo, mesmo vendo que nem todos passam por essas agruras – seguindo em frente, preparando-se para cair de novo lá na frente, diante de novos buracos, pedras no caminho, etc.

Enquanto isso, meu pai ia com ” O Capital” debaixo do braço, de garagem de ônibus em garagem, sendo o herói das massas, o esfarrapado Lênin baiano. Enquanto Isso, seus filhos sem pai e quiçá, quase famélicos.

A outra moça da foto, em uma Cidade da Bahia diferente da atual, tinha três – sim, não tá errado não, disse três – empregos para sustentar a casa.

Boa normalista que foi, preparou boa parte dos filhos da elite dessa cidade para a entrada no Ginásio (curso de admissão).

Enquanto isso, meu avô era um bom vivente, nas rodas de samba ou qualquer claque da época, digna de Vadinho antes das páginas de Jorge Amado.

Como se tudo isso já não bastasse, minha “vó Mirinha” ainda teve tempo de quando eu tinha uns 13 – 14 anos, em uma tarde ensolarada dessa mesma cidade que foi tão rude com ela, ser generosa.

Lembro dela ecoando o famoso “venha cá Luiz Paulo” e eu, curioso, olhando vagarosamente, centímetro por centímetro aquele objeto amarelo com aquele homem pensativo na capa que, pacificamente, olhava fixamente algum lugar.

O livro era “Demian”, da edição amarelinha.

Minha avó disse – aliás, no meu círculo mais íntimo de amizades, para meus amores, repito orgulhoso – que eu “já era bom o suficiente pra ler coisas mais interessantes. Chega de Monteiro Lobato !!”

Obrigado “Vó Mirinha” e “minha mãe” por tudo.

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