Clamar novamente e incessantemente

Era Abril de 1868, 20 anos após a “Abolição” e um jovem baiano, que nesse tempo estava radicado em São Paulo, escreve vários versos —entremeados de fortes imagens, gritos e sussurros— sobre o Atlântico Negro, sobre uma das barbáries que pariu o que hoje chamamos de Brasil.


Mas, existe uma pergunta que o jovem poeta clamou —primeiramente aos céus, diante de toda daquela ignomínia— e que, infelizmente, hoje e com as devidas proporções entre o tempo, espaço, história, de sangue derramado, de vidas ceifadas (séculos de escravismo x 15 mil mortes) continua viva.

Dia após dia, clama diante das ações dessa claque, dessa caravana que “apareceu” de 2013 pra cá, a mesma pergunta que — na minha opinião  e no meu caso— não podemos somente destinar às forças cósmicas do mundo invisível (e entre nós) do Òrun.

A pergunta de Castro Alves precisa ser feita diariamente, a cada um de nós que assistimos — quando muito batendo nossas panelas, escrevendo nessas redes anti-sociais, pensando sozinhos no conforto dos lares aburguesados…Enfim, nessa pura cristandade persistente, barroca —  passivamente esses malfeitores banalizadores do mal.

Até quando iremos permitir tudo isso?


Até quando, sem paus e pedras, só com palavras e sem os canhões, deixaremos essa caravana achincalhar todos nós?


Que espera é essa minha gente?

Estamos esperando o PT, os Black Blocks, Dom Sebastião, Lampião, o Anjo da História?

Ninguém irá chegar, nem mesmo Deus.

Mas, agonia por agonia, deixemos o jovemvelho poeta, cantarolar macio, o velho canto da “Tragédia do Mar” dos nossos ancestrais.

Talvez, já que ainda sou essa avis rara esperançosa,  de poesia em poesia e mergulhando devagarinho no mar de horror da diáspora africana, no extermínio físico e simbólico dos nossos ameríndios e, principalmente, para além de toda essa dor, na escolha que ambos fizeram pela sobrevivência imbuída de alteridade, de reinvenção deles e do mundo ao redor e assim parir as coisas mais belas desse país escrotinho, a gente consiga ter algum tipo de fogo nas veias.

“Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus!
Se é loucura … se é verdade
Tanto horror perante os céus?”

(Castro Alves – O Navio Negreiro)

#basta

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