Essas últimas semanas tive a oportunidade de mergulhar. Acredito que certos mergulhos —na praia ou na memória— trazem certo refazimento. Sendo assim, no rito dessa estranhada dança esquecida, coloquei, sem pressa, meu mofado escafandro pra encarar com dignidade a degustação de um outro claustro dentro do claustro pandêmico.
de fora pra dentro
deixo a porta fechada
passo o cadeado.
silêncio bom,
silêncio gostoso
ouço tudinho.
mesmo assim,
sinto que são necessárias
mais passadas no passado
talvez uma ou duas léguas.
será?
não sei mais.
e perto de algum lugar desconhecido
finalmente toco bem de leve
um certo infinito,
uma espécie de cosmogonia esférica na forma de um palco giratório de milhões de espelhos e de velhos televisores de TRC
cada qual com uma quiméria
cada qual com suas velhas cenas velhas
de sorrisos,
desenhos de nuvens,
e de sonhos vermelhos
que terminam em nada.
cinzel de duas balas.
e tudo vai emparedando
enquanto a mandíbula tenta em vão
morder o invisível
tatear uma escuridão sem fim
década.
Mas,
se a tatuagem é ali no pontilhão que liga
o peito ao que resta da festa da vida
não temos muitas opções.
Fui por aí,
descendo e subindo,
nas águas turvas de mim,
afogando e vendo
certos alumbramentos
uma miríade de arrebóis
risos,
bobagens,
amores,
MPB,
conversa fora,
Literatura
pequenos pedaços…
certa hipertrofia
devagarinho um frágil solstício
coexistência
pequenas belezas + buracos negros