Fim de dia, fim de prazo

Ficar aqui sentado. Apenas isso, opaco e silencioso. Sentado e quieto enquanto permito-me que delicadamente deixe meu propio corpo flanar.

O amor a si faz brotar certas flores que só podemos admirar assim, com esse olho calado e singelo.

E com ele eu vou desbastando o redemoinho desse rebotalho, dessa existência coletiva carniceira, desse isolamento interminável, das quase quinhentas mil mortes e outras tantas vidas mortificadas.

Esqueço.

Preciso esquecer pra não escrever uma vida minha vida no cárcere da alva camisa de amarras.

Olho pro horizonte sem aquele romantismo de sempre ou a inocência da esperança em um futuro do presente adocicado. Acabo prestando atenção no mar e seu majestático silêncio,no seu vai e vem já acostumado com as ondas da vida e nem um pouco preocupado com as minhas preocupações, com meus devaneios.

Com todo esse pedagógico desprezo marítimo fico mais aconchegado com esse belo fim de festa do dia, do sol, das luzes e também da humanidade. Finco definitivamente entre os pássaros -Pery Ribeiro e Leny Andrade, como a banda Gemini V, junto com o Bossa Três em 1965- que despretensiosamente “alegram a cidade” e trazem alguns tons de “azul” a esse pequenino vilarejo dos meus parcos eu.

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