Ano novo PARTE 1

Quase um mês de ano novo e só agora consegui parar e escrever. De alguma forma isso significa que faço uma certa tentativa, talvez tímida, talvez com certa exasperação,  de pensar como é que será minha marchar desejante. Ou seja, de pensar como será meu circuito libidinal mobilizado para um novo ciclo.

Pra mim esse 2023 é um novo passo ainda muito orientado por tudo que vivenciei nesses tempos de pandemia e de tantas mudanças radicais provocadas por esse momento sanitário e por outros, que acabaram por ocorrer concomitantemente  nesses últimos dois anos.

No final foram perdas, processos de redução de danos e alegrias, tudo em uma grande emulsão que se fez e ainda se faz em uma espécie de movimento pendular incessante, ora envolto em uma luz baça e outras vezes em termos azulados como há tempos não conseguia mais pulsar.

De fato tudo isso é, no fundo no fundo, um certa algazarra estranha e que desistir de saber de onde vem. Só sei que é um grito de uma generosa certeza que é por demais simples porém, sem ser simplória e que deixava esquecida dentro de mim :

– Estou vivo e mereço, antes de mais nada, um punhado generoso da vida bruta.

Na largada, depois de muito tempo sem passar o Ano Novo longe da Cidade da Bahia, fui para Planalto Central, no avassalador  31/12 – 01/01, na Capital Federal da República Federativa do Brasil.

Nunca mais esquecerei outro dia, que fica pra mim ao lado dos dias maiores de 2003 durante os quase dois meses da Revolta do Buzú, de 2005 e as peripécias de uma luta estudantil mais ampla e insurrecional e, obviamente, com aquele tremor de terra que foi 2013 e todas as mudanças que que vivenciei com tantas e tantos nas Jornadas de Junho e a luta militante que tive daquele ponto até mais ou menos 2018.

A posse de Lula foi talvez uma das nossas mais singelas declamações de uma espécie de poesia e de esperançar coletivo, de uma escolha de um povo que tem a coragem de dizer alguma coisa generosa ao mundo.

O mais impressionante é que esse gesto vem de um país com uma realidade ainda muito povoada por uma barbárie claudicante e de ausência substancial de cidadania para amplas partes da nossa população, tudo muito ainda consequência do seu processo colonial violentíssimo e uma imanente colonialidade vergonhosa, usurpadora de futuro.  Contudo, sabe-se lá como, construiu-se nesse  país alquebrado em certas paragens sublimes, geniais e tão generosas como foi essa posse presidencial.

Quase nada que pudesse escrever poderia fabular o que foi aquele 01.01.2023, um gesto praticamente antípoda à destruição sem fim que ocorreu exatos sete dias depois, no inacreditável  08.01.2023.

Mesmo lugar, mesmo povo e pulsões diametrais.

Esse é o país que somos.

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