Do Hospital até a Praia de Amaralina e depois no cume calmo da minha caixola velha

Engraçado como cada dia nasce com um sabor diferente, muitas vezes com bastante azedume, outras vezes tendo diante dos nossos olhos outros olhos, fugidios, selvagemente e por demais caramelados, puro açúcar e puro afeto.

Mas, mesmo a contragosto, a nossa única opção sensata é provar desse tragicômico angu de sangue em vez de ficar, de véspera, ensanguentado que nem deve ficar antes do dia 31/12 o coitado e suculento Peru da Sadia.

Não há como ficar escondido, não há como ficar debaixo da coberta diante do mundo que não é tão encantado quanto sempre afirmaram para nós.

Nossa coberta é curta demais e nem chega nos nossos tornozelos_de_pueris_ certezas.

A verdade é que o mundo é um emaranhado de ossos, sangue e gasolina, tendo pequenos e fugazes cânticos de beleza, aqui e ali, nascendo e morrendo aleatoriamente. O que resta aos nossos ouvidos_ventriculado são sempre, nesse culto de si que não seja individualista, no sentido liberal da prosopopeia delirante que vivemos, eles não deixarem que os ruídos encubra-os.

Por isso mesmo terão essas carcomidas orelhas, mais de abano contra os moinhos do que daqueles lutadores de artes marciais tão heróis nacionais, sempre improvisarem e na criatividade dotarem os seus tímpanos de uma espécie de remo e assim cortarem a correnteza modorrenta das mesmices dos nossos dias.

Por isso, depois dos acontecimentos de ontem, no qual metade do dia passei com um um companheiro anarquista, lá na emergência do Hospital Roberto Santos, e na outra metade do dia em uma comemoração com o pessoal da Herd , minha cabeça e mente ficaram um pouco cansadas desse banquete da alma humana.

Vivi em dois momentos o pior e o melhor do ser humano. Em uma parte toda a minha penugem sentiu essa dignidade e solidariedade, que apesar de todos os pesares, ainda consegue verdejar e acalentar minhas esperanças de que o homem, de que uma mulher, quem quer que ela seja, de onde quer que ele venha, mesmo com uma caixa cheia de escolhas equivocadas, é capaz de esculpir gestos nobres.

Tanto faz se era uma patricinha cheia de lantejoulas e babilaques cafonas como a Enfermeira que cuidou do meu companheiro. Pouco importa que tenha sido alguém tão simples e precarizado quanto um maqueiro com seus comentários misóginos enquanto transportava com toda gentileza meu sofrego companheiro.

Nada disso serve para balizar absolutamente nada ou porra alguma, inclusive a omissão de vários e várias medalhões da comunidade anarquista (sei lá que diabo de anarquismo/anarquismos é esse) que por divergências teórico-metodológicas, divergência morais contra a prática do outro,que negam o minimorum de solidariedade.

Mas, e o mais louco é que foi tudo em espaços de horas, menos de duas horas depois para ser tão preciso quanto os Relojoeiros de Jura, olhei e senti o almíscar que emana do pior do que a gente costuma chamar de ser humano.

Gente falando da vida alheia com seus recalques de sempre, pessoas ressabiada com o sucesso do outro e chorando por não terem mais a seu alcance o “sucesso” profissional das oito horas ou mais de trabalhos imbecis e procrastinadores de vida e de beleza.

Tão jovens e assim tão ensimesmados e idosos. São servos e nem sabe ao menos os motivos de estarem nesta condição de maneira voluntariosa. 

Gente é mesmo uma abundância de possibilidades e por isso tenho sempre o refúgio na minha solitude, de ficar no mato dos meus pensamentos que nem um Oṣóòsi (Oxóssi) quando fica a espreita da caça, ali no cume calmo de uma densa floresta, sozinho e na calmaria.

Mas nada como um Domingo lindo e azul turquesa como o de hoje. E assim sendo, mesmo ainda um pouco acabrunhado pelas idiossincrasias vespertinas do Sábado, foi um dia de arrumação, de andar pensativo e em devaneios singelos pela Praia de Amaralina depois de um saboroso almoço familiar, de colocar a agenda (quem sabe um dia usando o radicale em vez do Goggle Calendar) et cetera.

Tinha esquecido o quão bela é aquela Praia e o tão inebriante é passar ali pelas baianas e ter aquele cheiro de dendê misturando-se com o cheiro das algas que deitam-se cansadas nas areias de Amaralina.

Enfim, de devaneio e devaneio, de reminiscência em reminiscência (morei a minha infância neste saudoso bairro que parece que o tempo passa preguiçoso) simplesmente fui colocando as ideias da caixola em dia. Foi assim uma manhã – tarde – noite de colocar a mão na massa em tarefas que não mexia já há algum tempos.

Obviamente que entre uma pausa e outra pude deleitar-me com tia Luce Fabbri (Entre a história e a liberdade – Luce Fabbri e o anarquismo contemporâneo – Margareth Rago, Editora UNESP, 2000), com Paul Robin e a tradição da educação integral de Bakunin (Educação Libertária – F. G. Moriyón, Editora Artes Médicas,1989), Proudhon e sua teoria do conhecimento totalmente original (Relativismo e ceticismo na dialética serial de Proudhon – João Ribeiro Borba – Tese de Doutorado – PUC SP, 2008) com o Passetti e os seus textos sempre diretos e por isso mesmo mais que belos (Anarquismos e Educação – Edson Passeti/Acácio Augusto, Editora Autêntica, 2008). 
Finalmente, além dos lindíssimos “Candomblés da Bahia” (Edison Carneiro, Editora Conquista, 1961) e “Educación Anarquista – Aprendizajes para una sociedad libre” (Editorial Eleuterio, 2012) ainda tenho na algibeira duas belezuras de biografias, uma do Pierre Verger (Pierre Fatumbi Verger – Um homem livre – Jean Pierre Bouler – Fundação Pierre Verger, 2002)e a outra do Roberto Freire (Eu é um outro – Roberto Freire, Editora Maianga, 2003).

Mas voltando as coisinhas tech da minha vidinha né 🙂

Das coisas que quero mexer por esses tempos, ainda este ano e que passa ano e nasce ano sempre deixo para depois, uma delas é o OpenStreetMap.

Por isso comecei a ler hoje o Beginer’s Guide do JOSM –  Java OpenStreetMap editor,  mas depois quero ver como fazer todas essas traquinagens no Mapzen ou no Vespucci.

O negócio agora é instalar e brincar para que o mesmo vire uma importante ferramenta nas discussões sobre Plano de Bairro Comunitário, Plano de Mobilidade Comunitária e todas as discussões sobre Direito à Cidade que está começando a ficar mais aprofundadas no Tarifa Zero Salvador depois de todos os quebras paus internos.

Umas das coisas que comecei a ver por esses dias, já que falei do Tarifa Zero Salvador, foi como fazer um Boletim Informativo utilizando a linguagem Latex.

Uma parte do código achei no starckexchange voltado para assuntos tex page e aí fui moldando ao Tarifa Zero Salvador, inclusive a parte das cores e outras coisitas vinculadas a diagramação.

Para rodar tudinho utilizei o Sharelatex já que a ideia é que qualquer ser humano, inclusive advogad@s e comunicólog@s, inclusive estudantes do ensino médio (sim temos agora a juventude em nossa fileiras meu povo) usem e possam contribuir com a construção do Boletim.

Como bem citou Lucas Wanner e Rafael Rueda no “Introdução ao Latex

“Aparentemente LATEX não funciona bem para pessoas que venderam a suas almas”.

E cá pra nós, Latex é coisa para gente que usa capa e espada 😉
Mas como hoje é Domingo e dei meu passeio por Amaralina, nada mais gostoso que terminar ao som de “Um dia”, canção do álbum “Domingo (1967) dos nossos dois dos mais talentosos Orixás do panteão da cantoria (ex)popular baiana.

Xêro meu povo.

  
“No Raso da Catarina
Nas águas de Amaralina
Na calma da calmaria
Longe do mar da Bahia,
Limite da minha vida,
Vou voltando pra você”

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