Mais um dia de quarentena no qual agradeço imensamente por não ter contraído esse vírus e – certo egoísmo, certa falta de sensibilidade – nem ninguém que eu conheça.
Mas, a verdade é que isso não tira essa sensação de inquietude – e de certa impotência – que atravessa todos nós. Talvez essa seja a força avassaladora dessa pandemia, acrescida de fornecer a real dimensão de que somos meros mortais em um planeta de natureza mortífera.
As cenas, cada vez mais próximas de um caos generalizado hollywoodiano, com o vírus caminhando mais e mais perto do local onde temos nossas trocas culturais, onde moramos, das pessoas que amamos, vai criando um clima de comoção, que qualquer um que ainda tenha um pingo de solidariedade e compaixão com o outro ser humano vai vendo-se envolvido.
Falar de compaixão, de piedade em um país com 57 milhões de eleitores do Bolsonaro, em um momento que a cloaca verbal do nosso PR (Presidente da República) – ativamente de mal gosto – consegue a proeza da banalidade do E DAÍ , temos que reforçar, de maneira parcimoniosa e sem querer ser professoral, todas as obviedades que garantam o mínimo de convivialidade¹ entre seres humanos do Brasil – ainda que não tenhamos chance de saber até quando isso – ser brasileiro, ainda vai valer a pena diante de tantos retrocessos.
De conversas entre amigos e amigas, que sinalizam sempre que mesmo que a gente ame esse país e que ele mostre dia após dia que não quer saber de progresso ou nada que sinalize a contemporaneidade, com alguns amigos indo morar fora e recomendando o mesmo foi, de forma bem pedagogica que em uma LIVE entre Pedro Cardoso e o Fábio Porchat que o Pedro fez essa indagação, de que não queria ser brasileiro se fossem também brasileiros as pessoas que estavam fazendo passeatas nas portas dos hospitais.
Por isso, como todo mundo, tento nas medidas das minhas possibilidades, tecer as rotinas que tinha antes desse abnormal. Outra situação complementar é, quando o astral permitir, fomentar, bem devagarinho outras rotinas que sempre namorava, que sempre postergava seu início. E assim, no passo por vez, sem pressa, continuo acordando bem cedinho, preparando meu café, organizando a agenda do dia, limpando a casa, cozinhando e, como de costume, partindo para essa escrita cuneiforme – essa minha grande terapia.
Uma grande novidade é que, de uns tempos pra cá, tenho tido certa apreço, certa gostosura em criar fotografias, notadamente imagens com certo realismo mágico.
Quase todo dia tenho feito isso e, quase sempre, passo um tempo editando-as no GIMP ou Photoshop Express – esse excelente software proprietário.
E no mais, neste Sábado mais que solar, vou seguindo a máxima do Chico Science mas, com a licença poética de trocar o Malte pelo qahwa ²
“[…] Uma cerveja antes do almoço é muito bom pra ficar pensando melhor”.
Café também
Inteh,
[1] Aqui a questão da convivialidade é um tratada através do conceito Illichiano (construído por Ivan Illich) no qual ela é “[…] a capacidade de fazer conviverem as dimensões de produção e de cuidado, de efetividade e de compaixão, de modelagem e de criatividade, de liberdade e de fantasia, de equilíbrio multidimensional e de complexidade social – tudo para reforçar o sentido de pertença universal contra o egoísmo.” ²
[2] “[…] a palavra “café” não é originária de Kaffa — local de origem da planta —, e sim da palavra árabe qahwa, que significa “vinho” (قهوة), devido à importância que a planta passou a ter para o mundo árabe.” . Mais informações aqui, apesar de vários links estarem quebrados.
[3] IILICH, Ivan. Sociedade sem escolas. 7. ed. Petrópolis: Vozes, 1985a. 186 p. (Coleção educação e tempo presente ; 10)
[4] Uma ótima primeira aproximação do “Sociedade Sem Escolas” é um texto construído pelo Luciano Linhares que pode ser encontrada aqui