Na cozinha

Uma das atividades mais prazerosas que tenho tido, nos últimos 7 ou 8 anos é cozinhar. O que para muitos é algo enfadonho, chato, obrigatório pra mim é um momento de um jeito prático de adentrar em mim uma política de refazimento do meu ser.

Creio que isso advém de um relacionamento afetivo que tive com uma profissional da área, aliás, exímia diga-se de passagem. Com ela percebi que a arte de cozinhar e, indo além, subindo alguns degraus, a gastronomia realmente é uma arte.

Porém, caminhando um pouco mais pra trás, nas memórias ainda mais remotas, não posso esquecer que tenho na minha família duas excepcionais cozinheiras, minha avó e minha mãe.

Difícilmente alguma lembrança da infância não acabe trazendo cenas da cozinha de alguma das casas onde morei. Praticamente impossível não lembrar das panelas fervilhando, atoladas de leite condensado para a feitura de doces, que muitas vezes eram encomendados para casamentos, aniversário de crianças, etc.

Lembro que a parte boa era raspar a panela dessas misturas, obviamente após ajudar no posicionamento das forminhas.

Isso era melhor que qualquer outra recompensa que possa tentar lembrar rapidamente.

Nessa minha vida adulta, de morar sozinho, quase nunca arrisco caminhar na seara da doçaria baiana, portuguesa, etc.

Durante essa quarentena, confesso que utilizei a batedeira aqui de casa pela primeira vez, tendo até certo sucesso.

Porém, meu gracejo mesmo é com a gastronomia baiana e suas interações com as outras escolas gastronômicas que chegam via web , via TV por assinatura ou o que “chega” por pura curiosidade.

Sexta feira passada e Sábado foram dias que, como dizemos por aqui, botei pra fudê, misturando Brasil com Oriente Médio, e a Bahia atual com minhas leituras das diversas Bahias de Outrora, através dos livros de Vivaldo da Costa Lima, Manuel Querino, Olga de Alaketu, etc.

Falando em livros, ontem, já no finalzinho da tarde, finalmente chegaram meus livros novos de gastronomia sacerdotal/votiva.

Louco pra começar a ler e fazer as receitas.

Nesses encantos do Instagram — que se misturam com os encantamentos que a cosmogonia da diaspória generosamente propicia a mim — tive a oportunidade de conhecer, virtualmente, o autor dos dois livros.

Agradeço a gentileza das palavras bem como a dedicatória nos livros. Incrível como o mundo é pequeno pois, depois percebi que em ” Comida de Santo Que Se Come” um dos co-autores é o Professor e Babalorixá — redundância não é minha gente — Vilson Caetano, que foi orientador dessa minha antiga companheira de vida, quando a mesma era graduanda do curso de Gastronomia da UFBA, inclusive a primeira turma.

O TCC dela foi também em gastronomia votiva. O Babalorixá dela também era o supracitado intelectual, que também é do Chef Carlos Ribeiro, o autor dos dois livros.

Incrível essas “coincidências”, essas rotas de fuga que levam a gente a fortes ressonâncias, a esferas que trazem necessária imunologia diante do desamparo que tomou conta deste país — surreal e de araque, em muitos sentidos, exceto na produção da cultura popular.

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