Nossas palavras de ordem estão em desordem

Parece que alguns seres são eternos através de suas palavras infinitas. Talvez, na minha opinião tão pequenina, ele é o grande dramaturgo do Séc. XX além de um poeta de mão cheia.

Acima eu coloquei que as palavras de Brecht são infinitas, que são palavras esculpidas para além do tempo onde foram concebidas.

Mas, como medimos, como sentimos esse alcance?

Talvez tempos sombrios, tempos como os dos dois últimos dias — da falta de oxigênio nos Hospitais de Manaus, da morte por falta de ar das pessoas hospitalizadas — ajudem. A verdade é que tempos dolorosos são também tempos meta pedagógicos.

As palavras de alguém são infinitas no continuum da história humana quando percebemos o quanto que elas ajudam a enxerga o mundo onde vivemos. Uma visão para além dos esquematismos, para além da neblina dos nossos propios equívocos.

Por isso, uma poesia como “Aos que hesitam” — e tantas e tantas outras — é algo sempre transcendental.

Aos aos que hesitam

Você diz:
Nossa causa vai mal.
A escuridão aumenta. As forças diminuem.
Agora, depois que trabalhamos por tanto tempo
Estamos em situação pior que no início.  

Mas o inimigo está aí, mais forte do que nunca.
Sua força parece ter crescido. Ficou com aparência de invencível. Mas nós cometemos erros, não há como negar.
Nosso número se reduz.
Nossas palavras de ordem
Estão em desordem.
O inimigo distorceu muitas de nossas palavras
Até ficarem irreconhecíveis.  

Daquilo que dissemos, o que é agora falso:
Tudo ou alguma coisa?
Com quem contamos ainda?
Somos o que restou, lançados fora da corrente viva?
Ficaremos para trás por ninguém compreendidos e a ninguém compreendendo?  
Precisamos ter sorte?  
Isto você pergunta.
Não espere nenhuma resposta senão a sua.

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