“[…] hoje eu vou beber, sambar
Vou fazer feito você
Que nunca se preocupou
Com imagem por exterior
Vou render minha homenagem
Fazendo furdunço
Tocando horror
E quando a noite acabar
Eu vou gritar entre as grades
De qualquer delegacia
Jandira, já é dia
Quem diria.”
São dezenove horas na pandemica Roma Negra. Mais uma noite marcada pela escuridão que cobre o nosso presente.
Porém, mesmo cansado — de mim e de todo esse mar abjeto que não tem uma gota de mim— estou longe, bem longe de daqui.
De repente, meio sem querer, aparece a pulsão de um cigarro em uma mão e um copo de bebida barata na outra. Respiro, tentando entender esse tempo diferente, enquanto devagar as vestes da polifonia e dos outdoors quebram devagar as minhas infantil necessidade de lucidez.
De fato deixo o delírio seguir seu trabalho neste sofá onde estou, enquanto tudo ao redor vai ficando veloz e mais verdadeiro que o tempo de agora, um tempo canino e sem plumas.
E assim o tapete vira asfalto e todo o resto alguma esquina qualquer do Rio de Aldir e Bosco, que poderia ser a minha Salvador ou qualquer outra terra em que a dor e essa desesperada desesperança não estivessem tão irmanadas.
Tudo certo, o ar condicionado tá ótimo e meu único esforço é ter que levantar pra trocar o lado desse vinil.